O que é Pastoral de Conjunto ou Orgânica?

20/05/2011 23:29

 

A PASTORAL DE CONJUNTO não é uma nova pastoral a ser implantada na Igreja, nem uma Pastoral específica, alinhada às outras pastorais, como a da Saúde, a do Menor, dentre tantas. Nasceu na trilha de renovação eclesial efetuada pelo Concílio Vaticano II, a partir da compreensão de que a Igreja é uma rede de comunidades de irmãos e irmãs, cuja ação pastoral se dá de forma global, orgânica e articulada. Trata-se de uma mentalidade, um espírito que norteia a ação evangelizadora das dioceses. Devemos entendê-la como um esforço de aglutinação e articulação de metas e princípios na ação evangelizadora. À Pastoral de Conjunto, cabe a tarefa de promover a unidade na Igreja. Estabelecer o alicerce da estrutura pastoral calcada numa espiritualidade de comunhão. Em Puebla, em 1979, o episcopado latino-americano assim definiu a Pastoral de Conjunto: Ação global, orgânica e articulada, que a comunidade eclesial realiza sob a direção do bispo destinada a levar a pessoa e todos os membros à plena comunhão de vida com Deus.

Vale lembrar que já, em 1966, a CNBB elaborou o primeiro “Plano de Pastoral de Conjunto” (1966-1970), que propunha seis “linhas de trabalho”, atualmente conhecidas como “dimensões”. Esse plano foi o embrião das atuais “Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora”, até 1994 chamada “Diretrizes Gerais da Ação Pastoral”. Servir para solidificar as bases de uma Igreja que testemunha a comunhão e ajuda a construir uma sociedade solidária, de forma orgânica. Nascidas da reflexão e estudo de todos os bispos brasileiros reunidos em Assembléias Gerais, essas diretrizes fundamentam a Pastoral de Conjunto de todas as dioceses do Brasil. A Assembléia Geral dos Bispos do Brasil, ocorrida em Indaiatuba (SP), de 30 de abril a 9 de maio de 2003, aprovou as diretrizes que compreendem o triênio 2003-2006, assim resumidas: Evangelizar proclamando a boa nova de Jesus Cristo, caminho para santidade, por meio do serviço, diálogo, anúncio e testemunho de comunhão, à luz da evangélica opção pelos pobres, promovendo a dignidade da pessoa, renovando a comunidade, formando o povo de Deus e participando da construção de uma sociedade justa e solidária, a caminho do Reino definitivo.

O objetivo da Pastoral de Conjunto não é padronizar as pastorais nem desfigurar a variedade dos dons, carismas e serviços presentes nas comunidades. A busca da unidade não abafa a criatividade nem a ação do Espírito Santo. Cada grupo ou movimento eclesial, com sua espiritualidade e objetivos específicos, coloca-se em sintonia com as metas que a Igreja com um todo deseja alcançar.

Assim se configura a espinha dorsal, na qual fraternalmente se equilibram os membros do Corpo de Cristo, que é a Igreja, dispostos a caminhar numa perspectiva da pastoral orgânica: aposta-se na eficácia dos Conselhos de Pastorais como instrumento articulador da evangelização; estudam-se e aplicam-se os planos pastorais das dioceses; renuncia-se as interpretações pessoais, do subjetivismo e do espontaneismo; abandona-se o espírito de “grupismo”, as pastorais isoladas entram numa salutar crise de identidade, que as reconduz ao núcleo de uma ação missionária pautada pela sociedade e pela ajuda mútua; desmontam-se os esquemas internos de competição e concorrência pastorais. O estabelecimento de metas comuns na evangelização, aplicadas com criatividade, senso de comunhão e pertença à Igreja, pode concretizar o ideal as “unidade na diversidade”. As diferenças de leitura e interpretação, necessárias à contextualização dos planos nas distintas realidades nas quais estamos inseridos, são insignificantes diante da fé comum que professamos.

Mas só planejamento e organização não são suficientes. Cumprir o que se planeja é um bom começo, mas não é tudo. A Igreja não é uma empresa submetida às leis do mercado, nem comprometida com a ideologia do “controle e qualidade total”. Nem tudo que planejamos e colocamos no papel produz os frutos esperados. O Espírito Santo nos reserva surpresas e é bom que estejamos preparados para acolhê-las. O plano pastoral mais perfeito do mundo pode resultar em nada, se o espírito que o anima não nascer da caridade pastoral de Cristo, Bom Pastor. Ele é o nosso “programa”. Sua pastoral consiste fundamentalmente em sair à procura da ovelha perdida. Para encontrá-la, não carrega consigo em roteiro de viagem, nem o mapa que aponta a direção da ovelha perdida e machucada. Ele segue os impulsos de seu coração, que sabe muito bem onde há alguém à espera de carinho, cuidado e de “boas notícias”.

Ainda estamos bem distantes da transparência e vigor que impregnavam cada palavra e gesto de Jesus Cristo. Ele era o que anunciava. Sua pastoral era organizada e articulada de acordo com os planos e a vontade do Pai, sem mediações. Nós precisamos de reuniões, assembléias, planejamentos, consultas e assessorias. Os planos pastorais elaborados em nossas dioceses, a partir das diretrizes da CNBB, serão sempre um rascunho dos nossos sonhos. Servirão, por algum tempo. Outros planos de PASTORAL DE CONJUNTO deverão surgir. Inspirações e estratégias serão aperfeiçoadas e falhas corrigidas nas assembléias e sínodos diocesanos. O que está afixado no papel caducará, mas a chama do desejo de levar as pessoas à plena comunhão de vida com Deus não poderá se extinguir.

“PASTORAL DE CONJUNTO” ou “PASTORAL ORGÂNICA” são apenas nomes que damos ao esforço de evangelizar em mutirão: leigos, leigas, religiosos, religiosas e a hierarquia, em comunhão orgânica e missionária, a serviço da vida e da justiça.

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